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SCHAEFFER, Francis A.; KOOP, C. Everett. O que aconteceu com a raça humana? Brasília, DF: Editora Monergismo, 2020.

 

O que aconteceu com a raça humana? É daquelas obras inesquecíveis porque nos chamam a experienciar situações que de tão absurdas nos parecem impossíveis, no entanto, os absurdos tratados no livro se tornaram comum, fazem parte do nosso dia a dia, estão nas manchetes dos jornais. Toda a discussão está pautada em três temas de fundamental importância: aborto, infanticídio e eutanásia, e por sermos humanos, cristãos ou não, os temas dizem respeito a todos nós.

Livro publicado em 1979, inspirou documentário[1] com o mesmo título, possui 272 páginas em sua edição de 2020 pela editora Monergismo. Os autores da obra dispensam apresentações, Francis Schaeffer e Everett Koop, intelectuais conhecidos por prezaram pelo maior bem humano, o direito à vida.

No capítulo que abre o livro, a discussão traz a importância da vida humana a partir da cultura ocidental com bases cristãs, era devido ao cristianismo que a vida humana era entendida como sagrada, ao perder o senso cristão, a humanidade passou a não considerar a vida como um bem que deve ser preservado. A lei passou a ser aquilo que um pequeno grupo defende por meio de ideologias nocivas à existência humana.

Com a prevalência do humanismo, e acrescento, com a prevalência de todos os “-ismos” nocivos à existência humana como comunismo, evolucionismo e outros, não há regras para declararmos a verdade, desse modo abrimos espaços para todo tipo de crueldade, até a ética está sendo compreendida como questão biológica e não filosófica. Mesmo sendo da década de 80, a obra continua atual, esses dias vi uma matéria em que uma psicopata reivindicava o direito de ser acolhida[2] porque nasceu assim, da mesma forma por não haver verdade absoluta na cabeça de muitas pessoas, todo tipo de comportamento e identidade deve ser acolhido, se você acha que é um gato, todos os humanos com o mínimo de entendimento são obrigados a aceitar  e respeitar, daqui uns dias nos obrigarão a estudar comportamento animal nos “cursos de humanas” para incluirmos as criaturas que se identificam como animais, não é à toa que querem colocar a pedofilia como uma doença para amenizar as penas.

Quando padrões morais são substituídos pelo relativismo moral, a sociedade aceita  e patrocina todo o lixo que violenta a sacralidade da vida humana, na medida em que o homem já não é imagem de Deus, sua existência é objetificada e os mais vulneráveis se tornam alvos de todo tipo de crueldade, crianças, idosos, doentes e mulheres são alvos de aborto, eutanásia, tráfico, exploração, todos os dias as grandes mídias, os grandes conglomerados econômicos apoiam e patrocinam práticas repulsivas, fazendo calar todos que se opõem[3].

Nossas praticas jurídicas são pavorosas, fazemos diferença entre uma criança que está dentro do útero e uma que está em nossos braços, o bebê que nasce prematuro vai para a incubadora ganhar peso e outro bebê com mesma idade é vítima de aborto por meio  proibido até para animais[4] como aconteceu no caso disponível no link, uma adolescente foi submetida a um parto trabalhoso de cerca de 60 horas, teve seu bebê assassinado pelo método de assistolia e tudo foi feito por meio jurídico em nome do bem-estar da gestante. O incrível é que as mesmas leis que matam o inocente não são endurecidas quando se trata de abuso infantil, se o inocente é condenado a morte porque é fruto de um estupro, por que o estuprador sai impune? Por que não há prisão perpétua para pedófilos e estupradores? Se nasceram assim não podem estar em sociedade. Onde estão as feministas para cobrar prisão perpétua para abusadores? Por que não castrar estupradores sejam homens ou mulheres?

A obra mostra que a legalização do aborto só fez aumentar a violência contra crianças e adolescentes, o que parece paradoxal, já que em outros países é tão mais fácil abortar, protegido por lei, é apenas questão de escolha, por que os números de violência só crescem? Se as crianças que nascem são “desejadas” já que não foram abortadas, por que tanta crueldade cotidianamente? Países como o Brasil querem seguir os mesmos rumos catastróficos da Europa para terem uma indústria aborteira tão forte quanto as que comandam todo tipo de exploração humana desde comércio de pedaços humanos à venda de pessoas[5].

Chegamos ao ápice da desumanização em nome da economia, não se vendem mais escravos, vendemos pedaços, pele, para fins diversos, todos sabem, mas como é lucrativo pessoas são traficadas todos os dias, filmes expõem pornografia infantil como normal e chamamos isso de arte. Somos a geração que mais merece o juízo divino, talvez nunca tenha existido sobre a terra uma geração tão vil que já não oferece crianças aos deuses em busca de boas colheitas, matamos e exploramos em busca do metal. Uso plural porque todos somos responsáveis, se nos calamos, se assistimos aos filmes, se consumimos essa porcaria que chamam de arte, se ouvimos suas músicas, se votamos em seus projetos de governo, somos tão culpados quanto eles, essa questão é a chamada final da obra, você tem que se posicionar, não pode permanecer calado, não pode fingir que não está vendo.

No capítulo 2, os autores expõem a crueldade médica daqueles dias em que de forma intencional crianças eram deixadas para morrer nas enfermarias sem assistência pelo fato de possuírem síndromes. Lembro que na primeira ultrassom morfológica, quando eu estava grávida de Mírian, a médica que me atendeu ao ver que nossa bebê era enferma encheu a sala de universitários, não se importou comigo que estava em um profundo sofrimento emocional, fez da minha bebê um exemplo de bebês que não deveriam ter o direito de nascer vivos porque eram doentes, ela terminou o exame com essas frias palavras: “você deve fazer um aborto porque seu bebê não é viável, não se preocupe, será fácil, eu lhe dou as guias”.

 Saí da sala em choque, não só porque tive certezas ali de que minha bebê estava enferma, mas porque ela “pintou” um bebê monstruoso dentro do meu ventre, cheio de anomalias, uma criança, que nas palavras dela, era indigna à vida. Eu deveria ter processado na época, ter feito um escândalo, mas saímos tão fragilizados que não conseguimos parar de chorar pelas próximas vinte e quatro horas. Quatro dias depois fomos encaminhados para um especialista e o atendimento foi outro, após outra morfológica, o médico sentou conosco e conversou, falou sobre o diagnóstico, nos mostrou Mírian como ela era, uma bebê que tinha uma síndrome rara, mas que iria nascer e ele estaria conosco até o fim, falou sobre a expectativa de vida dela, que deveríamos nos preparar.

  Esse médico fez a diferença, ele exerceu a profissão em benefício do paciente, do enfermo, independente de quanto tempo esse paciente teria de vida, ele praticou o respeito à vida humana, ele nunca apresentou o aborto como indicação, ele se desgastou para ir até o fim, estou falando de um médico de agenda cheia, muitos alunos para ensinar, que atendia as grávidas até 8, 9 da noite sem as vezes nem ter almoçado.

Nesse sentido, o capítulo citado consegue ser fino ao designar a medicina como uma profissão que deve ser usada em prol do enfermo, não de sua família cruel, não de sua família sem tempo, a medicina deve tratar o enfermo para que ele tenha conforto e assistência até seu último dia de vida, não deve ser usada como arma para abreviar esses dias e fazer com que enfermos e idosos morram como animais sarnentos nas calçadas sem dono.

Fique com a seguinte pergunta: se é permitido e defendido por lei matar determinada classe de pessoas segundo o desejo de um grupo pequeno, mas poderoso, o que impede que logo os critérios mudem para cor, raça, língua, sexo, cor do cabelo, idade? O texto nos lembra que durante décadas tentaram provar que os negros não eram humanos para que continuassem sendo escravizados e mortos, no século atual, mudamos a classe de indivíduos, hoje bebês no útero não são pessoas, enfermos devem ser abandonados e idosos devem ser mortos. No caso de abertura para a sentença de morte de bebês, idosos e crianças, qualquer brecha é uma porta larga demais para ser aceita.

No capítulo 3, os autores mostram como os ideais nazistas eram usados de forma pragmática para selecionar os indivíduos merecedores à vida, na lista dos que deveriam ser eliminados estavam: pacientes doentes por 5 anos, incapazes de trabalhar devido alguma enfermidade, pessoas que sofressem de transtornos que impossibilitassem o preenchimento de uma ficha, judeus, ciganos, todos que não se encaixassem dentro do perfil de “vida que merecia ser vivida”. Dentro da lógica relativista, evolucionista, ateia, há vidas que não merecem ser vividas, como a de uma criança enferma, ou de um bebê indesejado já que se trata apenas de uma não pessoa, como dizem “um amontoado de células”. Nossa geração não percebeu que já abrimos as portas da desumanização, estamos alargando essas portas dia após dia e logo eu e você, estaremos em um grupo que não merece viver, vemos o avanço das ditaduras comunistas, com a extinção da famigerada democracia ocidental todos corremos o risco de sermos vistos como não sujeitos, não pessoas que devem desaparecer.

No capítulo 4, os autores falam sobre a única cosmovisão capaz de sustentar o direito à vida: o cristianismo, porque se o cristianismo for falso, se o humano não é imagem de Deus, é apenas sequência de uma evolução que caminha para o nada, para o desaparecimento, todas as coisas são permitidas como escreveu Fiódor Dostoiévski, nada tem sua razão de ser na medida que nosso contrato social depende apenas da cultura. Os poderosos podem mudar rapidamente, indistintamente suas regras sobre que tipo de mundo querem e quem querem que esteja nessa realidade, parece bem dramático, mas o Holocausto[6] é prova de que o mal é possível e permitido em uma sociedade que perdeu de vista valores cristãos como família, amor ao próximo, respeito à vida e outros.

Os capítulos 5 e 6 poderiam ser apenas um, pois o capítulo 5 traz as verdades históricas dos evangelhos e o 6 nos pede para que tomemos partido na discussão. Gostei particularmente deste livro porque não se trata apenas de discutir o que é certo, mas de estar pronto para viver na verdade, no sentido de que se creio no evangelho, se creio que são a verdade, não uma verdade, mas a verdade, devo viver de acordo com essa verdade, tenho algo a fazer por mim e pelos outros na sociedade onde vivo.

No capítulo final, os autores mostram como podemos ajudar, como podemos ser mão de Deus para tocar outros, deixarei algumas perguntas para reflexão, a depender de sua resposta, você saberá se está ou não praticando o que professa em palavras: você é aberto à vida? Você vota e apoia projetos que defendem o que a Bíblia diz ser verdade? Que tipo de ajuda humanitária sua igreja exerce na comunidade onde está? Você emprega recursos na sua comunidade, em projetos que beneficiem os carentes ao seu redor? Você já hospedou pessoas que precisavam de você? Você é aberto a adoção? Você presta assistência a seus pais idosos? Seus recursos intelectuais são usados em benefício do reino ou apenas em benefício próprio?

Nos apêndices, os autores trazem mais informações sobre as ideologias dominantes, deste modo podemos entender melhor em que ponto da história vivemos para nos mover em direção oposta ao mundanismo.

37 Então os justos lhe responderão, dizendo: Senhor, quando te vimos com fome, e te demos de comer? ou com sede, e te demos de beber?

38 E quando te vimos estrangeiro, e te hospedamos? ou nu, e te vestimos?

39 E quando te vimos enfermo, ou na prisão, e fomos ver-te?

40 E, respondendo o Rei, lhes dirá: Em verdade vos digo que quando o fizestes a um destes meus pequeninos irmãos, a mim o fizestes. (Mateus 25)

 

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