Quem já leu Simplesmente mulher, ou me conhece, sabe
que cresci marcada pela ausência paterna, magoada pela frustração de saber que
minha mãe não se importou em me fazer justiça, era direito saber minha origem,
mas aprendi desde criança, se posso resolver, resolvo, se não posso, toco a
vida para frente. O fato é que nunca tinha conseguido perdoar meu pai; a história que
me foi contada é que minha mãe buscou o namorado para falar da gravidez e ele
se recusou alegando que era infértil, ela mesma acreditou que o dito rapaz era meu
pai; convivi com isso durante 32 anos, com ódio, rancor, mágoa, até uns 26 anos
de idade.
Eu orava pedindo a Deus que me ajudasse a perdoar, que me ensinasse
a amar, que eu tivesse a oportunidade de ouvir o outro lado da história, que de
alguma forma eu pudesse entender. O versículo que abre a página do meu blog é o
motivo pelo qual consegui perdoar, não nasci da vontade carnal de um homem e
uma mulher, eu tenho um pai que não me deixou órfã, que preservou minha vida
mesmo diante de tantos desafios. Encurtando o assunto, iniciei “minha cassada”,
quem seria meu pai? Onde morava? Estaria vivo? Com ajuda de amigos e familiares
entrei em contato com a criatura que disse que era infértil, de bom grado ele
me atendeu e aceitou fazer o exame, até demonstrou interesse, o resultado é que
ele estava certo, não era meu pai, ele não tinha nenhum filho.
Dei uma pausa porque a decepção para todos foi grande, minha
mãe chegou a alegar que talvez eu pudesse ter sido trocada na maternidade, ela
não podia acreditar que não sabia quem era meu pai. O pecado cega as pessoas,
elas transam sem responsabilidade, criam filhos sem responsabilidade e morrem
pensando que não devem satisfação a ninguém.
Depois de uns dias ponderei se valia a pena continuar
procurando, analisei meus motivos para continuar nessa busca, entendi que o
momento perfeito para a situação que eu vivia era aquele, quando eu não tinha exigências,
quando não tinha mais cobranças, quando eu já tinha perdoado as dívidas humanas
para comigo. Você não pode ser livre se ainda pensa que as pessoas te devem
alguma coisa, se pensa que Deus te deve alguma coisa, se espera alguma recompensa
humana e foi de tanto apanhar nessa área que fui curada.
Ninguém me deve nada, tudo o que faço é de livre vontade sem
esperar que me recompensem, não perco mais tempo, se não quero fazer, não faço,
e se faço algo por alguém, tenho como dado, perdido, entregue, sei que não vou
receber de volta, porque no amor “a mão sempre parece de via única”, se encontro
“via dupla” no caminho, festejo, não é muito comum. Se não aguenta mais uma
determinada situação, não esgote suas forças tentando mudar os outros, vá
embora, mude você. E se escolher ficar, toque o barco para frente sem cobrança,
sem choro, sem rancor, cada um só dá o que tem.
Resolvi tentar mais uma vez, tive uma boa surpresa,
encontrei uma pessoa que já tinha feito parte da minha infância, ele às vezes
perguntava se eu não era filha dele, mas minha mãe repetia a mesma história. Era
ele, fiz outro exame e por fim preenchi um espaço em branco na minha trajetória
de vida. O passado não mudou, porém saber muda tudo, ganhei um amigo, não digo
um pai, porque essa relação é construída na infância, amizade é por coração,
não por vínculo sanguíneo, amizade é por escolha, não é obrigação. Fui curada
não por encontrar meu pai, mas por perdoá-lo de coração, por entender o outro
lado da história. Fui curada por perdoar minha mãe, por amar. Nem sempre amamos
quem perdoamos, mas Deus diz que devemos amar, não só perdoar, disse que quando
depender de nós, deveríamos ter paz com todos. Nem todos têm paz comigo, porém
de minha parte, ninguém me deve nada nessa vida, as vezes que fui injustiçada, Cristo
foi minha justiça, transformando o mal em bem em todas as situações que foram
dolorosas. O que Deus precisa curar em você hoje?
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