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PEARCEY, Nancy. Verdade absoluta: libertando o cristianismo de seu cativeiro cultural. 12. ed. Rio de Janeiro: Cpad, 2021.

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Verdade absoluta (2021), de Nancy Pearcey, foi uma das gratas surpresas deste ano; obra extensa com 525 páginas, divididas em quatro partes e apêndice, o livro se caracteriza como leitura obrigatória para o público cristão de todas as idades. Autora renomada, mestre em Ciências Humanas, e mais que isso, sua perspectiva não é apenas teórica, Pearcey fala de cosmovisão, a partir da análise de quem viveu uma transformação radical em sua maneira de encarar os vários “-ismos” contemporâneos, esses que competem pelo nosso coração na tentativa de expulsar Deus da vida diária do cristão.

Na abertura do livro, a autora desfaz a falácia de que o cristianismo possui verdades acerca da vida humana, como é demonstrado na obra, o cristianismo tem a verdade sobre o todo da realidade humana, não deve haver separação entre vida religiosa e vida secular, pois o cristianismo é a lente pela qual o cristão interpreta o mundo, desta forma, não importa se sou um cientista ou um carpinteiro, toda minha maneira de viver vai expressar as habilidades com as quais o Criador me dotou para sua glória, e com esse entendimento “(...) em qualquer área de estudo, estamos descobrindo leis ou ordenações da criação pelas quais o Criador estrutura o mundo”. (PEARCEY, 2021, p.37).

Na primeira parte, a escritora traz uma extensa bibliografia, da filosofia grega aos nossos dias, para sistematizar como o cristianismo foi apartado da vida comum e deixado no “mundo das ideias”, como o cristianismo passou a ser uma religião do âmbito privado perdendo seu lugar na esfera pública. Pearcey tem como sua principal influência intelectual Francis Schaeffer, foi com ele que a autora entendeu que “Os crentes podem aplicar uma perspectiva distintamente bíblica cada vez que apanham o jornal, assistem a um filme ou leem um livro”. (Idem, p.62).

A partir do dualismo platônico, a autora mostra como todas as cosmovisões vigentes estão divididas entre o que é “prático, verificável, confiável” e aquilo que entendemos como sendo relativo “valores, misticismo, religião” etc. Todas elas apresentam a divisão clara entre real e ilusão, apenas o cristianismo “oferece uma verdade unificada e integrada” (Idem, p.135) da existência humana. A exposição feita nessa obra nos encoraja a entrarmos no campo de batalha intelectual sabendo que temos A Verdade, não uma verdade.

De forma mais sistemática, Pearcey usa a grade: CRIAÇÃO – QUEDA – REDENÇÃO para esclarecer como as cosmovisões concorrentes usam essa mesma lógica com seus ídolos, citarei a primeira, acredito que seja a mais comum para o estudante contemporâneo: Criação para Marx? A matéria autocriada e auto produtiva (tudo gira em torno das relações econômicas). Queda para Marx? O surgimento da propriedade privada (a opressão surge aí). Redenção para Marx? Acabar com o capitalismo (recriar o paraíso comunista primitivo). Qualquer cosmovisão atual vai ter como fio condutor essas três linhas.

No capítulo 6, já na segunda parte da obra, a autora cita as mais novas descobertas científicas e não teme atacar o evolucionismo com elas, citando químicos, físicos e o próprio Darwin, ela expõe as fragilidades da teoria evolucionista que nos é apresentada como lei, quando na verdade, já não responde à pergunta fundamental: como a vida passou a existir? Desde 1950, cientistas sabem por experiência, que processos aleatórios não produzem informação complexa (idem, p.217), nem com bilhões de anos, não há execução de tarefa se todas as partes de um sistema complexo não estiverem no lugar desde o início, assim a falácia de que é possível se ter complexidade de mudanças lentas, sucessivas e numerosas fica de todo esfacelada (idem, p. 211).

De forma simples, colocar todos os ingredientes de um bolo em cima da mesa, não produz o bolo, é necessário processo regular vindo de um desígnio, qual tamanho, qual cor, qual sabor o bolo vai ter, e se algo tão simples como um bolo, exige a complexidade de um desígnio, por que deveríamos pensar que os seres, complexos como são, vieram de processos lentos e aleatórios? A teoria do Design se destaca porque só uma mente inteligente poderia criar combinações complexas ao ponto de originar vida com suas diferenciações genéticas, humanos produzindo humanos, plantas produzindo plantas, animais produzindo animais, dentro de regularidades que se repetem indefinidamente desde que surgiu vida na terra. Encerrando esse tema “Se ideias e convicções não são verdade, mas apenas ferramentas para controlar o ambiente (são apenas produções para garantir a sobrevivência), então o mesmo se aplica à ideia do próprio pós-modernismo” (idem, p.272). Sendo assim, por que deveríamos lhe dar crédito?

Na terceira parte do livro, Como perdemos a mente cristã, a escritora mostra que o evangelicalismo, de forma geral, foi extremamente afetado pela divisão entre coração versus cabeça, assim como a vida se dividia em pública e privada, a religiosidade das pessoas passou a estar dividida entre fé emotiva e fé racional, no sentido de que os grandes avivalistas falavam e pregavam de forma dramática levando o público a se emocionar, característica que diferia dos pregadores confessionais do período. Na época, essas diferenças causaram controvérsias no meio cristão protestante, como consequência, até hoje temos a divisão entre cristãos que pensam que a fé é expressamente emocional colocando a racionalidade do viver cristão em segundo lugar. A autora mostra como a mensagem arminiana e a eclesiologia de igreja livre se ajustavam ao período de governo democrático e economia capitalista em expansão (idem, p. 319).

Nancy Pearcey, nos capítulos seguintes, mostra como a divisão entre vida privada e pública, entre fato e valor, influenciaram o convívio entre homens mulheres desembocando nos movimentos feministas atuais. O que mais gosto na obra é que a estudiosa cita uma extensão de autores e obras, fazendo o estudo do estado da arte abrangente o suficiente para fundamentar aprofundamentos a partir da obra em questão, diferente de outros livros que senti necessidade de pesquisar temas e autores anteriores porque não ficou claro a fundamentação (como a resenha do livro anterior que está aqui no blog). A autora mostra que antes da Revolução Industrial, a economia era familiar, homens e mulheres trabalhavam juntos para sustentar a prole (idem, p.365). Depois desse período, o trabalho foi dividido ou foi deixado para o Estado, os homens trabalham horas e horas fora de casa, as mulheres ficam com o cuidado dos filhos, ou como é atualmente, o Estado através de creches e escolas educam nossas crianças, homens e mulheres vivem fora do lar em serviço de seus empregos. Todos os aspectos citados, desde as mudanças nas igrejas até as mudanças no lar, contribuíram para que perdêssemos a mente cristã, já não sabemos viver uma vida cristã.

O que faremos? Como viveremos? Essas perguntas são respondidas na última parte do livro, desafios são colocados à mesa, cabe a nós decidirmos viver sob a perspectiva cristã.  Pearcey nos convida para praticarmos o evangelho nas pequenas e grandes coisas, nos convida a sermos oposição no sistema mundano atual, a abandonarmos nossa sede por controle, a vivermos uma vida simples em serviço dos filhos de Deus. A autora demonstra uma visão peregrina da vida no sentido de não nos apegarmos aos bens e carreira, nossa missão é levar o Cristo, que morreu e ressuscitou, na sua mais sincera encarnação em nós ao sermos feitos novas criaturas. Cristo deve estar em nós quando estamos dirigindo organizações, quando estamos lavando louça, quando estamos vendo TV, quando estamos comendo, em todos os momentos Cristo deve ser em nós.

O livro é tão bom que nem o apêndice deve ser deixado de lado, pois traz mais história, mais filosofia e principalmente um chamado para vivermos o cristianismo hoje, agora, em todos os lugares. É daqueles livros que faz você querer comprar toda a coleção da autora e dos citados por ela. Comprem, leiam, emprestem. Acredito que este será o primeiro de muitos, vou deixar os clássicos de lado e embarcar na escrita de Pearcey e seu mestre Schaeffer.

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