Durante muito tempo odiei ouvir a história do meu nascimento, mas acredito que seja pertinente compartilhar neste espaço. Minha mãe é uma mulher negra, casou bem jovem, pariu 6 filhos, cuidou do marido com câncer durante 8 anos, ficou viúva aos 38 anos com 6 crianças pequenas; nada de mais até aí, se Maria, minha mãe, tivesse recebido amparo emocional, econômico, social para enfrentar a situação. Maria conheceu um rapaz de 26 anos, teve um relacionamento rápido com ele, porém tudo terminou quando surgiu a notícia de uma nova gravidez, já era o ano de 1990, e se estava difícil criar 6, seria mais difícil agora.
Sem apoio do parceiro, seis
filhos menores, Maria tentou me matar, abortar, queria se ver livre de tanta
rejeição, problemas e acusações. Tentou morrer atropelada, acordou no hospital,
tentou me matar com ervas, ela quase morre novamente, tentou me matar fazendo
trabalho pesado, enfim todo tipo de estripulia, por fim, desistiu. Eu viveria,
mas iria para adoção tão logo nascesse. Minha irmã conseguiu uma família de
bacanas para me receber; se hoje o processo de adoção é complexo e demorado, nos
anos 90, as adoções eram feitas no “jeitinho brasileiro”. Foram três dias de
trabalho de parto, Maria quase morre, já tinha quarenta anos; pediu laqueadura,
o Estado negou, não recebeu auxílio nem de familiares. Pela
graça de Deus, que naquele momento pareceu carrancudo aos olhos de Maria, eu
nasci, vi o mundo, sem destino certo, mas com a história escrita pelo dedo de
Deus.
Depois de tanta dor, Maria desistiu
da doação, se criava 6, criaria mais uma. Os filhos mais velhos foram vender
latas, catar papelão, as filhas que casaram ajudavam como podiam, depois de
verem o bebê, aceitaram a ideia e abraçaram a causa, ajudariam a criar. O que
quero dizer é que sou feliz por terem me deixado viver, passei o diabo sem
pai, minha mãe sofreu todo tipo de humilhação pela filha bastarda, mas eu gosto
de estar viva. Trinta e dois anos
depois, tudo mudou, há mais de 10 anos minha mãe mora comigo, conseguiu me educar,
e sempre que lembra do caso, pede perdão pelo que me fez, do fundo do coração, está
perdoada, porque o apóstolo assim escreveu:
Mas a todos quantos o receberam, deu-lhes o
direito de se tornarem filhos de Deus, ou seja, aos que creem no seu Nome; os quais não nasceram do sangue, nem da vontade da carne, nem da vontade do homem, mas
de Deus. (Jo. 1:13)
Esse versículo foi
libertador para mim. Quando eu estava passando por momentos difíceis na
adolescência, me perguntava porque Deus não permitiu minha morte, afinal eu nem
saberia. O que eu não entendia é que Deus tinha um propósito para mim, que
entre milhões de possíveis seres humanos, eu venci a corrida e por pouco não
morri “na praia”.
Ao invés de lutarem pelo direito de aborto de
forma indiscriminada, deveriam lutar pelo direito a laqueadura (que existe e
não funciona na prática), pelo direito de auxílio maternidade para toda e
qualquer mulher que precise, pelo direito de educação de qualidade para os
filhos dos mais necessitados, por núcleos de apoio psicológico para mães
solteiras, por conscientização e disseminação de métodos contraceptivos, por
acompanhamento de conselheiros tutelares, programas de inserção no mercado de trabalho,
etc. Tudo que pudesse preservar e manter a dignidade da vida humana, em vez de
quererem o direito de matar, deveriam lutar pelo direito de dar vida com
dignidade.
Na verdade, minha mãe não
queria me negar vida, ela só não via perspectiva de vida digna para mim. As que
mais precisam, não matam por vontade, porque querem estudar, terminar
faculdade, porque estavam drogadas, porque o namorado não concorda, matam
porque não veem perspectiva de vida para aquele bebê, e ao matar, matam um
pedaço de si, se minha mãe tivesse sido bem-sucedida, hoje viveria atormentada
pensando no bebê inocente que não teve direito de viver. Lutar pelo aborto é
jogar álcool em uma floresta que já está em chamas. Seja uma mão amiga para uma
mulher grávida, para uma mãe solteira, para uma mãe com bebê recém-nascido,
essa mulher pode ser sua vizinha, ao invés de condenar essa mãe desesperada,
ajude. Filhos são herança do Senhor, creia que por trás de “(...) uma
providência carrancuda, Deus tem uma face sorridente(...)” (William Cowper),
não vai ser fácil, mas vai valer a pena.
Huau essa história é real e eu faço parte dela !! História essa que se repete em milhares de famílias.
ResponderExcluirLembro minha amada irmã de toda sua história, mais sempre dei todo apoio minha mãe, pois você foi alegria de nossas vidas depois de tanto sofrimentos que passarmos todos nós te amamamos pode ter certeza que você é muito amada não pense de outra forma você foi o melhor presente que Deus deu pra todos nós te amamos muito❤❤
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