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PLANTINGA, Alvin; TOOLEY, Michael. Conhecimento de Deus. São Paulo: Vida Nova, 2014. 334 p. Tradução: Desidério Murcho.


Conhecimento de Deus é resultado do debate entre dois filósofos sobre se há a possibilidade de a crença em Deus ser ou não justificada, estamos falando de Alvin Plantinga e Michael Tooley que lançaram o livro em 2008. A primeira edição para o português é de 2014, pela Editora Vida Nova e tradução de Desidério Murcho. A obra possui 334 páginas, divididas em seis capítulos, como é fruto de um debate, temos os capítulos de exposição dos dois pontos de vista, depois capítulos de réplica e tréplica.

Inicialmente gostaríamos de comentar o nível de dificuldade da leitura, talvez porque sejamos iniciantes em um nível de abstração mais profunda, talvez porque não tenhamos domínio sobre as questões que circundam o debate, o fato é que a leitura se impôs como desafio. Os capítulos iniciais são mais simples, porém os exemplos que são colocados para fundamentar os argumentos expostos por ambas as partes se mostraram de difícil compreensão para nós. Portanto, exporemos impressões e resumos dos principais pontos de vista da forma mais objetiva que pudermos.

No primeiro capítulo, Contra o naturalismo, Alvin Plantinga apresenta três argumentos: 1 – “(...) se o naturalismo fosse verdadeiro, não haveria função apropriada, consequentemente, não haveria também um mal funcionamento ou uma disfunção”. 2 – “(...) o naturalismo está comprometido com o gênero de ceticismo profundo e debilitante (...) ele tem um derrotador para seja o que for que acredite, incluindo o próprio naturalismo”. 3 – “(...) argumentarei que o naturalismo, na medida em que implica o materialismo acerca dos seres humanos, não abre espaço para as características essenciais da nossa vida mental, incluindo em particular a crença”. (PLANTINGA; TOOLEY, 2014, p. 12).

Esse capítulo é particularmente brilhante, em resumo: se o naturalismo não pode acolher a função apropriada de funcionamento das coisas e seres, nem saúde, doença, ou coisas do tipo, e se ele for verdadeiro, não há crenças, as coisas simplesmente existem, simplesmente funcionam ou não, assim não importa o naturalismo e não temos como saber se ele próprio pode ser tomado como fato, no sentido de que a racionalidade é posta em xeque, só o que resta é aquele “(...) ceticismo profundo, multifacetado e reflexivo que David Hume simultaneamente teme e sanciona”. (PLANTINGA; TOOLEY, 2014,p. 87).

No capítulo dois, Tooley inicia sua apresentação falando da improvável existência de Deus tendo em vista a quantidade de males que existem no mundo. Porém, como ele próprio explica, esse argumento não é suficiente, por isso passa a apresentar o tema em três bases:; 1. Se há relevância no conceito de Deus. 2. A diferença entre os deuses das várias religiões e o Deus concebido como o monoteísmo apresenta. 3. A diferença entre poder saber se Deus existe ou não, ou se há justificativas para a crença em Deus.

Baseado na existência de tantos males, o filósofo argumenta que é improvável a existência de um ser como o que as religiões de forma geral apresentam, o que não fica claro nesta primeira fala são os motivos que o levam a pensar assim, se não há a definição do que possa ser o bem ou mal e em quais situações isso seria possível. Na defesa do segundo ponto, ele afirma a inexistência de Deus dado o fato de todas as religiões advogarem a bondade para a divindade a qual professam, mas isso não deixa claro porque seria improvável, isso só demonstraria que a existência de Deus é uma crença presente em todos os povos e em todos os tempos independente de língua, povo ou continente. Para sustentar o terceiro argumento, o clássico argumento do mal é trazido para o centro. Em resumo é improvável que qualquer divindade exista devido o fato de haver tanto mal no mundo, pelo menos é o que fica claro inicialmente.

Aprofundando suas razões, são propostas três questões: podemos ter conhecimento da existência de Deus, ou temos garantias de sua existência, ou temos crenças epistemicamente justificadas? Em argumentos muito simples e muito rasos, o filósofo tenta mostrar que Deus não é imutável, não pode ser moralmente perfeito, não pode ser onisciente e não pode estar fora do tempo, porém para tentar provar tais coisas é necessário que uma ideia de Deus já exista previamente, ou pelos menos que esclareça que tipo de bem, mal, tempo se está falando. Assim tudo continua em aberto independente dos argumentos usados porque não sabemos o que significa “moralmente perfeito” para ser a base que sustenta a improbabilidade da existência de Deus. O mais interessante é que ambos os autores trabalham com exemplificações complexas com uso de probabilidades, porém nenhum deles consegue chegar a um ponto decisivo.

No terceiro capítulo, Plantinga discute que a probabilidade da existência de Deus pode ser muito maior devido a outros fatores conhecidos que apenas a existência do mal, e que para Deus existir não há a necessidade de ausência de males. Em resumo, o mal pode ser usado para discutir a bondade de Deus, discutir sua onisciência ou não, mas nada pode provar em relação a sua existência ou não. Assim não será um fator relevante para derrotar a crença em Deus. Com o desenvolvimento de todos os argumentos, inclusive de que Deus é criador, Plantinga resume que no máximo podemos ter uma posição agnóstica, mas nunca ateia, porque as evidências probabilísticas ou o argumento do mal, no máximo podem evidenciar fatores que levam a crença, mas não evidenciam fatores que levem a uma conclusão de não existência de Deus.

No quarto capítulo, Tooley responde aos argumentos de Plantinga com críticas relacionados a concepção de conhecimento de seu interlocutor, com a crítica da crítica, Tooley tenta ir desfazendo todos os argumentos expostos contra o naturalismo materialista, a partir do fato de que nossas experiências podem produzir crenças, até robôs podem produzir alguma espécie de crença se forem programados para determinadas situações. Assim, “(...) entidades puramente materiais podem ter crenças e pensamentos” (PLANTINGA, 2014, p. 242). Em um segundo momento, o filósofo argumenta em torno da capacidade de criação externa que é advinda através da linguagem. O que é admirável é que no final do capítulo, o debatedor faz uma análise sobre a exposição feita até o momento e chega à conclusão de que as defesas ao naturalismo não são suficientes para provar a não existência de Deus , como também se não existisse naturalismo, não serviria para mostrar evidências da existência de Deus.

Em resposta à Tooley, Plantinga inicia o capítulo cinco, Os robôs podem pensar?, afirmando a incapacidade de qualia de seres puramente materiais. Contrariando o argumento de seu interlocutor, Plantinga afirma que ainda que um ser material possa ter sensações, experiências, isso não significa que seja capaz de produzir crenças. “(...) se o materialismo fosse verdadeiro, ninguém acreditaria fosse no que fosse”. (PLANTINGA, 2014, p. 274). Compreendemos que esse argumento é de fundamental importância, porque não só contribui para a probabilidade de um ser imaterial existir, mas põe em discussão todo tipo de crença, desde escolhas simples baseadas em crenças sobre determinadas situações.

No capítulo seis, Michael Tooley faz seus últimos comentários sobre se a crença em Deus é ou não justificada, na visão do debatedor, a discussão não parece ter sido promissora, tendo em vista que ao final, parece-nos que tudo volta ao ponto de partida, o argumento do mal fica como o pilar ainda sobre o qual muitos justificarão sua descrença na existência de Deus e o argumento ontológico de Plantinga aparece como o mais promissor na visão de Tooley.

A obra, de modo geral, apresenta vários pontos de estudo para os leitores mais curiosos, apesar da complexidade dos exemplos, os pontos centrais podem ser entendidos com certa facilidade, ainda que haja a necessidade de consulta ao dicionário. Para nós, a leitura foi muito demorada, para leitores mais experientes ou que tenham estudos em filosofia, a leitura poderá ser mais rápida e de fácil entendimento.

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