Diante de tantos acontecimentos terríveis e que causam mal estar (pelo menos deveriam causar) no meio evangélico, fico me perguntando: por que os cristãos, em vez de se tornarem missionários, se tornam militantes políticos? Por que ao invés de darem exemplo, são piores que os pagãos? Em parte, creio que é cumprimento da palavra de Deus, por outro lado, acredito que ainda são resquícios do casamento que parte da igreja fez com o Estado por volta do século IV; os cristãos que eram perseguidos passaram a perseguir; o Estado se intrometia nos assuntos da igreja e dentro da igreja as disputas por poder não tiveram mais fim.
A igreja só logrou brigas, facções, inveja e ganância ao se unir ao Estado. Foi por ter poder estatal
que a igreja queimou e trucidou em nome de Deus muitos hereges, entre os quais,
podemos citar centenas de protestantes. Não devemos misturar coisas tão
distintas, deveríamos prezar para que a igreja cuide de seus assuntos e o Estado
trabalhe para o bem comum. A igreja deve procurar manter uma vida casta e
exemplar diante do mundo, deve ter suas próprias regras principalmente em um
país corrupto como o nosso, mas entendendo que compartilhamos uma comunidade com pessoas que não são obrigadas a viver como vivemos.
Segundo Cairns (2008),
a igreja percebeu: “(...) que embora uma associação com o estado lhe trouxesse
benefícios, isso lhe traria também muitas desvantagens.” Uma dessas
desvantagens seria a constante interferência do Estado. Não voto em pastores,
bispos ou padres, porque prefiro que continuem vivendo como cristãos, quando
entram para a política deixam os cargos eclesiásticos por falta de tempo, e se não
deixam, ganham dinheiro sem trabalhar, de todo modo, não é benéfico nem para a
igreja e nem para o país, falo da realidade brasileira.
Sobre as grandes
questões, a igreja tem uma postura muito definida e muito correta biblicamente,
só não entendeu ainda que o país não é uma congregação. Devemos prezar para que
nossos jovens sejam cuidados e não precisem recorrer ao estado para pedir o
direito a um aborto ou coisa do tipo. Devemos cuidar para que “nossos fiéis”
(devem ser fiéis a Cristo e à palavra) não se transformem em assassinos,
ladrões, promíscuos, etc. Enquanto a igreja cuida dos mundanos, deixa os filhos
sem doutrina; quando relaxa a doutrina, abre espaço para todo tipo de pecado.
Uma teologia errada e fraca produz os cristãos que estamos vendo aí, que matam e roubam. Com isso
não estou defendendo o feminismo, nem o aborto, nem qualquer outra pauta que
“esteja aí para hoje”.
Quando digo que o Estado deve estar apartado
da igreja, quero dizer da religião, incluindo o ateísmo militante. O Estado não
deve governar terreiros, nem igrejas, nem casas de encontro espírita, nem
qualquer outra coisa. Não estou dizendo que deve ser ateu, mas deve permanecer
trabalhando para todos os cidadãos que vivem em sua dimensão geográfica e
social, deve ser laico, por isso não voto em pessoas para defender minha
religião, posso fazer isso com minha vida, e se for pouco, posso entregar o
pescoço pelo que acredito, voto em pessoas para que a educação tenha o
investimento necessário, para que as ruas sejam saneadas, para que toda sorte
de injustiça tenha a devida apuração, para que haja emprego e coisas que são
importantes para crentes, ateus, brancos, pardos, pretos, índios,
heterossexuais, homossexuais e todas as terminologias que estão na “pauta”.
Diante disso, nos vemos em uma encruzilhada, o Estado é formado por pessoas que professam crenças, como separar a fé da responsabilidade de governar para todos? Se nem os ministérios são imparciais, que dirá o voto dos representantes do povo. Precisamos parar de brigar entre nós mesmos e percebermos que no poder cada um luta por sua fatia, muitas vezes individualmente sem se preocupar com a opinião de quem votou, sem pensar no bem comum. Precisamos acordar como nação, parar de esperar por salvadores, por intelectuais ou por falsos “homens humildes” que nos trarão uma vida melhor, mais feliz.
Sobre a organização do mundo
Todos nós queremos uma vida melhor nesse mundo, sobre a salvação
espiritual de nossas almas e transformação de nosso ser caído, Cristo já
trouxe solução, porém com relação à organização do mundo, nunca estaremos completamente satisfeitos com governo
nenhum, não importa quem está governando, enquanto não for Cristo, não
estaremos satisfeitos, por hora, podemos trabalhar por aquilo que é justo no
governo de nossas igrejas e famílias sofrendo as consequências em nossa carne.
Não podemos esperar do mundo aquilo que só Cristo pode dar, vida eterna, justiça e
felicidade eterna; mesmo os melhores governos possuem características que desagradam a alguém, não digo que certa justiça social não seja possível, é possível quando entendemos que as mudanças devem ser feitas para todos, não apenas para atender a demanda de um ou outro setor privilegiado.
Chegou o momento de
aceitarmos o que está escrito em Apocalípse 22:
10E acrescentou: “Não ocultes as palavras da
profecia deste livro, porquanto o tempo se aproxima rapidamente. 11Ora, quem é injusto, continue na injustiça;
quem é mundano, continue na impureza; mas quem é justo, firme-se na prática da
justiça; e quem é santo, continue a buscar a santificação.
12Eis que venho sem demora! E trago comigo o
galardão que tenho para premiar a cada um segundo as suas obras. 13Eu Sou o Alfa e o Ômega, o Primeiro e o
Derradeiro, o Princípio e o Fim.
14Bem-aventurados todos os que lavam as suas
roupas no sangue do Cordeiro, e assim ganham o direito à árvore da vida, e
podem adentrar na Cidade através de seus portais. 15No entanto, fora estão os cães, os bruxos e
ocultistas, os que cometem imoralidades sexuais, os assassinos, os idólatras e
todos os que amam e praticam a mentira.
Enquanto isso, temos que conviver com
todos, entender que uma coisa é o governo dos homens sobre o mundo durante um período de tempo, outra coisa é o governo vindouro de Cristo, não dá para tentarmos impor as regras dos salvos para os mundanos, o que dá para fazer é viver em paz e respeitar as escolhas individuais que cada um dará conta somente a Deus, lembro do momento em que Deus disse para que os Israelitas orassem pela paz da Babilônia, porque durante o exílio de Israel, a paz na Babilônia significava paz
para os escolhidos. Não podemos sair do mundo, mas podemos viver de modo digno, glorificando a Deus. Lutemos pelos valores do reino em nossas vidas, em nossas
casas, em nossas famílias, em nossas congregações, e descansemos, pois “o que
há de vir, virá, não tardará”, disse o apóstolo.
Referências
Bíblia King James Atualizada, Português, Abba Press,
2012.
CAIRNS,
Earle Edwin. O cristianismo através dos
séculos: uma história da igreja cristã. 3° Edição, Vida Nova, São Paulo,
2008.
👏👏👏
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