Sempre achei que minha mãe era mais
dramática que outras mães, realmente, eu não a compreendia. Cansei de ouvir as
histórias sobre os oito anos em que esteve no hospital com o esposo doente e de
como foi difícil vê-lo morrer dia após dia, vagarosamente.
Tive noção do que essas coisas
significavam quando me vi dentro de um hospital com uma criança enferma,
vendo-a morrer dia após dia, vagarosamente. Entendi que minha mãe não é
dramática, é só uma mulher que sofreu. Tenho admiração por pessoas que não
desistem fácil, embora eu mesma, algumas vezes, não tenha tanta resistência. Minha
mãe é dessas pessoas, uma mãe que não desistiu fácil.
Acho que só compreendemos alguém, as atitudes
de alguém, quando estamos em uma situação parecida. Passei quase dois meses no
hospital e ao sair percebi que não sou a mesma pessoa, minhas emoções não são
mais as mesmas, a perda de Mírian foi um choque grande em minhas estruturas, porém
isso me fez pensar sobre as emoções de minha mãe. Sempre me perguntei por que
minha mãe parecia estar à beira de um ataque, até para contar histórias, ela
conta de forma enérgica como se estivesse vivenciando o episódio que aconteceu há
20 anos. Penso que são as marcas emocionais deixadas pelos oito anos de
hospitais e de ter que cuidar do esposo com câncer.
Durante esses dias o que
mais ouvi foi que me entendem, mas não, não nos entendem. Só quem pode entender
é quem já perdeu um filho, quem já sofreu com um parente amado em um hospital. Podemos
ter noção do que alguém passa quando nos colocamos em uma posição mais humilde
e tentamos imaginar o nosso berço vazio, nossa cama vazia, nossa casa em
silêncio, o quarto fechado com um enxoval pronto sem um bebê.
Hoje compreendo mais minha
mãe, e algumas mulheres que me cercam. A dor deve, pelo menos, nos tornar mais
humanos, mais humildes com os outros e isso começa dentro de casa. Não
adianta querer decifrar o mundo, amar os necessitados e doentes sem começarmos
em casa. Nossa família é nossa primeira escola, é na família que convivemos com
as dores e alegrias, ilusões e tristezas. Agradeço a Deus por minha família,
uma família com muitos problemas, muitas perdas e desilusões, porém a família
perfeita, na qual o Senhor me molda para me fazer mais parecida com Cristo.
Não bata no meu ombro e diga
que entende nossa dor, não vou pensar mal de você por isso. Façamos o que diz a
Bíblia:
“Alegrai-vos com os que se alegram; e chorai com os que
choram”. (Romanos 12:15).
Esta é a demonstração mais
terna de amor: ser capaz de chorar com quem chora e ficar feliz pela alegria
dos demais.
Te amo muito muito
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